O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu hoje o uso dos biocombustíveis, frente àqueles que os culpam pela alta nos preços dos alimentos, e responsabilizou o petróleo e o protecionismo pela atual crise humanitária.
Lula fez essa defesa durante seu discurso na cúpula da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) sobre segurança alimentar, que começou hoje, em Roma.
"Os biocombustíveis não são os vilões. Vejo com indignação que muitos dos dedos que apontam contra a energia limpa dos biocombustíveis estão sujos de óleo e carvão", criticou o presidente.
Presidente diz que mundo precisa lidar com ameaça do aquecimento global
O mundo precisa lidar com a "gravíssima ameaça" que representa o aquecimento global. O pedido foi feito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na abertura da Conferência da FAO - a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentção - em Roma. Ele lamentou que alguns países se recusem a assumir compromissos e metas de redução de emissão de dióxido de carbono."É mais fácil pôr a culpa nos outros do que fazer as mudanças necessárias, que ferem interesses estabelecidos. Assim, parece que nos últimos tempos, as vozes dos que clamam por uma redução nas emissões de dióxido de carbono estão ficando mais fracas", disse. "É lamentável. Não podemos ser irresponsáveis com o futuro dos nossos filhos e netos, com o futuro do planeta. O mundo não pode continuar queimando combustíveis fósseis ao ritmo atual", completou.
Lula citou uma pesquisa feita no Brasil comparando emissões de dióxido de carbono em um carro movido a etanol e outro movido a gasolina. Segundo ele, o carro movido a gasolina emite oito vezes e meia mais dióxido de carbono do que o veículo a etanol. "Na comparação do diesel com o biodiesel, constatamos que o caminhão movido com combustível fóssil emitiu 5,3 vezes mais dióxido de carbono do que aquele movido a biodiesel".
Ao defender o etanol, Lula lembrou que esse combustível, que vem da cana-de-açúcar, durante a fase de crescimento também é responsável pelo seqüestro de grande quantidade de dióxido de carbono. "O etanol não é apenas um combustível limpo. É também um combustível que limpa o planeta enquanto está sendo produzido".
Ele anunciou para as Nações Unidas que em novembro fará, em São Paulo, a Conferência Internacional de Biocombustíveis, quando serão chamados especialistas e cientistas para um debate técnico sobre o assunto.
Ban Ki-moon pede consenso mundial sobre biocombustíveis
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu nesta terça-feira aos participantes na reunião de cúpula da FAO em Roma um maior consenso internacional sobre os biocombustíveis, apontados por muitos como responsáveis pelo aumento dos preços dos alimentos.Quase 50 chefes de Estado e de Governo se reúnem a partir desta terça-feira por três dias em Roma, sede da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), para tentar encontrar soluções à crise alimentar mundial provocada pela disparada dos preços dos produtos básicos.
A questão dos biocombustíveis divide os que denunciam o desvio de grãos para a produção do etanol (álcool combustível) ou de plantas oleaginosas para biodiesel.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, presente no encontro, defendeu de modo veemente no domingo a produção de biocombustíveis derivados da cana-de-açúcar, por considerar que "não ameaçam a produção de alimentos" e contaminam menos que outros combustíveis.
"Não é o etanol que eleva o preço dos alimentos, porque o Brasil, que produz mais biocombustíveis, também produz mais alimentos", afirmou.